Balder: O Deus Brilhante que não Brilha Mais

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Por Ryan Stone. Tradução ao português de Sonne Heljarskinn.

Conhecido entre os escandinavos pré-cristãos, e pelos próprios deuses, como o “Deus Brilhante”, Baldr era a imagem da perfeição na religião nórdica, e o orgulho e a alegria dos Æsir (membros do principal panteão de divindades). O segundo filho de Odin e sua esposa Frigga, Baldr era amado e adorado por seus companheiros deuses — nas mentes dos Aesir, ele não poderia fazer nada errado e nada de errado poderia ser feito para ele. Ele era o marido de Nanna e pai de Forseti, e habitou com eles em seu salão Breidablik, localizado no equivalente nórdico do Paraíso [NDT: não existe um equivalente nórdico do paraíso. Asgaard é a morada dos deuses]. Nada impuro pode existir neste reino, assim, o mais alto de todos os tribunais existiu aqui; com a ajuda deste filho hábil (Forseti), todos os julgamentos em Breidablik eram absolutos e agradáveis para todas as partes. A ironia de uma vida assim tão perfeita como a de Baldr é de umas poucas especifidades nela. O Deus que brilha antes é mais lembrado pelas circunstâncias de sua morte.

A morte de um deus coloca uma interessante anormalidade na crença habitual de que os deuses são imortais e invencíveis. Os deuses do panteão grego e romano todos existiam permanentemente, e isso é um padrão para as crenças sobrenaturais antigas. No entanto, na religião nórdica todos os deuses foram feitos para perecer. Houve um tempo e lugar específico conhecido dos Æsir onde eles cairiam – no evento predestinado de Ragnarök – e eles sabiam que a sua ocorrência era inevitável. A morte de Balder é o primeiro sinal de que o Ragnarök está no horizonte, assim, a morte do deus mais puro não é apenas doloroso, mas aterrorizante.

A morte de Balder é melhor contada na Edda poética, um compêndio de poemas recolhidos por um autor desconhecido. De acordo com este relato, e de acordo com uma variedade de artefatos e outras literaturas, Balder e sua mãe Frigg (às vezes chamado de Frigga) ambos começaram a sonhar com a morte prematura de Balder. Odin foi imediatamente despertar a völva, uma profetisa do sexo feminino, que concordou que Balder foi realmente destinado a morrer, simbolizando o primeiro sinal de que Ragnarök estava próximo. Com medo, Frigg tentou lutar contra este decreto, articulando com todas as pessoas e coisas nos nove mundos para não fazer nenhum dano a Balder e deixá-lo viver sua vida em paz. Todos, exceto a planta visco fizeram este juramento, como é dito que Frigg acreditava que o visco era muito jovem e inocente para entender o peso de uma tal promessa, e, portanto, não era necessário pedir-lhe para concordar.

Como a palavra tende a viajar rápido no reino dos deuses, não demorou muito para que Loki, irmão de Odin que tinha prazer em todas as coisas perniciosas, fazer uma lança (ou em alguns casos uma flecha) com a própria planta. Os outros deuses tinham decidido fazer um jogo com a nova impenetrabilidade de Balder e foram passar seu tempo jogando todos os tipos de objetos e armas perigosas em Balder, divertindo-se enquanto eles não podiam prejudicá-lo. Loki foi para este encontro e ficou ao lado de Höðr o irmão cego de Balder, convencendo Höðr para jogar a arma de Loki em Baldr para o divertimento de vê-lo falhar em prejudicá-lo. Inocentemente usado, Höðr fez como Loki solicitou e, inadvertidamente, matou seu irmão brilhante, levando a sua própria morte nas mãos de outro filho de Odin, Váli.

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O mundo inteiro chorou por Balder. A ele foi dado o funeral adequado de um guerreiro Viking, colocado sobre uma pira ardente em seu navio Hringhorni, o maior de todos os navios. Com ele queimou seu cavalo, um anão chamado Litr, e sua esposa que não podia suportar viver sem ele. Quando a pira brilhou alta, a giganta Hyrrokin foi encarregada de empurrá-la para o mar, fazendo com que toda a terra tremesse furiosamente com a força de seu impulso. Frigg fez uma última tentativa de ver o seu filho novamente após a sua descida para Niflheim, a variação dos noruegueses do Inferno — governado, bastante curiosamente, pela própria filha de Loki, Hel [NDT: Helheim não é um equivalente do Inferno, mas um dentre os vários destinos pós-vida segundo os nórdicos. Confira mais aqui]. E ao contrário de seu pai, Hel julgou como razoável o pedido da mãe de luto. Se todas as coisas na terra chorassem e lamentassem pelo deus morto, Hel devolveria Baldr para a superfície, permitindo-lhe derrotar a morte. Frigg viajou pelos nove mundos do reino nórdico imediatamente, pedindo a tudo e todos a chorar para o deus perdido.

Mas as profecias não podem ser derrotadas, mesmo que a morte possa. Loki, disfarçado como a giganta Thokk, recusou-se a chorar para o deus por despeito, condenando assim Balder para Niflheim até Ragnarök, o fim dos tempos. Como a völva anunciou desde o início, Balder estava destinado a ser o primeiro sinal de que o fim do mundo dos Æsir estava por vir. Quando ele ressurgisse novamente, ele traria os restos mortais do mundo para fora sob a destruição de Ragnarök e lideraria a sua renovação. Baldr iria se reunir com Höðr novamente revivido e, juntamente com dois dos filhos de Thor, o mundo seria ressuscitado sobre o fundamento do perdão, e purificado dos antigos costumes – um tema reconhecido e valorizado pelos escandinavos cristãos que uma vez seguiram essas antigas tradições.

Bibliografia

Abram, Christopher. Myths of the Pagan North: the gods of the Norsemen (Continuum International Publishing Group: London, 2011.)

Colum, Padriac. Nordic Gods and Heroes (Dover Publications: New York, 1996.)

Guerber, Helene A. Myths of the Norsemen (Barnes & Noble, Inc.: New York, 2006.)

Unknown. The Poetic Edda. trans. Lee Hollander (University of Texas Press: Austin, 2011.)

 

NDT = Nota do tradutor.

Original em inglês disponível aqui.

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Um pensamento sobre “Balder: O Deus Brilhante que não Brilha Mais

  1. Na verdade essa é uma versão do sincretismo nórdico-cristão, e o mais provável é que ele tenha sido morto por Höder intencionalmente, pois Balder e o seu assassino disputavam para ver quem se casaria com a deusa Nanna (esposa de Balder na outra versão do mito).
    Tanto é que o costume de sacrificar pessoas, principalmente escravos, ou, se assim a própria desejasse, a sua esposa, é para aqueles que morreram em BATALHA. Veja a serie Vikings e dê uma olhada também no Portal dos Mitos e pesquisem “Balder”.
    Valeu?
    Falou!

    Sonne Valur (Heljarskinn): Oi colega. Gostaria de saber a fonte dos seus argumentos sobre a intriga de Hodr e Baldr. Além disso a série Vikings tá longe de servir pra ensinar alguma coisa, ela é puro entretenimento e não possui nenhuma intenção de fidelidade histórica. O blog portal dos mitos é um blog eclético, nós, por outro lado, somos focados em toda a visão de mundo germânica e não apenas fazemos control C+ control V de informações para nossas postagens. No mais: “Valeu? Falou!”

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