Pós-vida de acordo com nórdicos e germanos

Por Sonne Heljarskinn

Para onde as pessoas iriam depois de mortas? Comumente dizem apenas “Valhalla” ou “Hel”, mas veremos aqui que as coisas não eram bem simples assim.

A ideia mais comum era que os mortos permaneceriam nas próprias tumbas, por isso se explica que muitos eram enterrados com fortunas, escravos, alimentos, animais, etc. Ou que essa tumba servisse de ligação com o Hel, onde a alma descansava separada do corpo. Além disso, há que se mencionar:

CULTO DE ANCESTRAIS E HERÓIS

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Eiríkr hinn rauði, ou Eric, o Vermelho, atualmente é bastante conhecido e lembrado como o primeiro escandinavo – e europeu – a encontrar a América.

O culto dos ancestrais era um elemento na cultura escandinava pré-cristã. Os antepassados eram de grande importância para a auto-imagem da família e as pessoas acreditavam que ainda eram capazes de influenciar a vida de seus descendentes a partir do (sub)mundo dos mortos. O contato com eles foi visto como crucial para o bem-estar da família. Se fossem tratados da maneira ritualmente correta, poderiam dar suas bênçãos aos vivos e assegurar sua felicidade e prosperidade. Por outro lado, os mortos poderiam assombrar os vivos e trazer má fortuna se os rituais não fossem seguidos. Não está claro se os antepassados foram vistos como forças divinas em si. Havia ainda o culto direcionado aos heróis, pessoas importantes para todo um grupo de tribos. Em ambos os casos a ideia é a da conexão entre os vivos e os mortos foi mantida através de rituais ligados ao local do sepultamento como sacrifício de objetos, comida e bebida. Essa era a crença de pós-vida mais comum entre os antigos: de que o ancestral permanecia de alguma forma ligado, e não no todo separado, ou em um paraíso, como nas religiões reveladas.

VALHALLA

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O lugar mais amplamente mencionado na atualidade como destino após a vida é o palácio do Valhalla (Valhöll) no mundo dos deuses, Asgaard. Para chegar até lá, nada de ser bonzinho e justo: você precisava morrer em batalha. Segundo J. Langer, a primeira visão das Valkyrjor era justamente de seres bestiais que distribuíam a morte aos guerreiros conforme sua vontade; isso muda aos poucos até se ter uma visão mais romântica dessas filhas de Óðinn, como uma espécie de guardiãs, e em alguns casos parecem meramente “escolher entre os mortos” os que vão fazer parte do exército dos Einherjar (o qual lutará ao lado de Óðinn na batalha final, “Ragnarök”, no fim do ciclo temporal). Mas a visão que parece mais coerente é a de que elas e Óðinn decidiam os que morriam e os que não, escolhendo entre os primeiros aqueles que são levados ao Valhalla. Todavia, com base em estudos mais detalhados, percebe-se que provavelmente o Valhalla possui muito mais um significado poético que literal.

FÓLKVANGR

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Mas nosso deus caolho tinha um acordo com outra deusa asgardiana sobre os mortos, a Vanir Freyja, a qual consta que tinha direito à metade dos guerreiros, e inclusive de escolhê-los antes do próprio Óðinn, os quais iam ao Asgaard levados pelas Valkyrjor após morte em batalha e ficariam no palácio da deusa da fertilidade, o Sessrúmnir localizado em Fólkvangr.

É de importância central lembrar que as mortes violentas eram sinal de bravura por significar principalmente entrega para o clã e a coragem do seu povo e não unicamente a glória individual.

HEL

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O mundo subterrâneo, regido pela deusa Hel que o dá nome, filha de Loki, seria outro destino (provavelmente o mais comum) dos mortos: para quem morria de doença ou velhice, ou qualquer causa natural. Hel não era essencialmente um local de punição, é algo mais como um outro mundo pós-vida, onde viveriam os que saíram de Midgard (e os outros mundos como Alfheim, Svartalfheim, e Nidavellir, possivelmente). Hel poderia ainda ser interpretado como uma figuração para o subsolo no qual o corpo era depositado e no qual descansava eternamente, uma vez que é literalmente a camada inferior da terra.

NÁSTRÖND

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Mas também há indícios de que em Helheim haveria um local de punição para aqueles especialmente corrompidos, chamado Náströnd, destinado para traidores, assassinos, adúlteros e aqueles que quebravam a palavra. Percebe-se que era um local destinados a todos aqueles que desestabilizassem a ordem coletivista tribal. Lá o dragão Níðhöggr mastigaria os que chegavam.

PALÁCIO DE ÆGIR E RÁN

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Outro destino era o reino de Rán, Ægir e suas filhas, no fundo do mar, mas apenas para os que morriam navegando. Era possível que se realizassem cantorias e elogios para a deusa e suas filhas e marido nas viagens marítimas para acalmar o oceano e impedir tragédias. Caso isso não funcionasse, era bom levar ouro, porque assim você garantiria algum conforto nos palácios da deusa; menciona-se inclusive que os bem-recebidos poderiam “viajar” para ver o próprio enterro.

HELGAFJELL

@ JOHANN ISBERG
@ JOHANN ISBERG

Montes destinados aos antigos pertencentes a clãs, etc. Diz-se que era tão sagrado que não se olhava para lá sem ter lavado a face.

BILSKIRNIR

Esse é o castelo de Neuschwanstein na Alemanha. Imagem meramente ilustrativa.
Esse é o castelo de Neuschwanstein na Alemanha. Imagem meramente ilustrativa.

No poema eddaico Hárbarðsljóð Óðinn disfarçado de barqueiro faz um bullying pesado com Thor, enchendo-o de perguntas e insultos. Além de Óðinn se apresentar como um galanteador em contraposição a Thor (a coisa praticamente se resume ao seguinte argumento, para Óðinn: “enquanto você brigava eu estava namorando várias mulheres”), a própria estratificação social nórdica é usada com motivo de chacota: ao passo que Óðinn (um deus cultuado mormente pela nobreza) tinha as almas dos nobres e guerreiros, a Thor (um deus altamente popular, relacionado também à fertilidade, como os Vanires) restava levar ao seu palácio de 540 quartos apenas os thrall, isto é os escravos ou camponeses pobres.

GEFJUN

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Gefjon arando a Terra na Suécia por Frølich

Mas, e se você for uma mulher e morrer virgem? Segundo o Gylfaginning da Edda em Prosa composta por Snorri Sturluson, é para junto da deusa da fertilidade Gefjun (ou Gefjon) que você vai: “Gefjun é a quarta (das Ásynjur, deusas de Asgaard). Ela é uma virgem, e as mulheres que morrem solteiras servem a ela”.

ÁLFAR

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Dado o caráter agrário da antiga religião, muito mais importante que o guerreiro, os ancestrais em geral eram associados aos montes onde eram enterrados, e à fertilidade. Também há a hipótese levantada por estudiosos respeitados como Hilda Roderick Ellis e Gabriel Turville-Petre, a qual consta que possivelmente figuras reais ou importantes ancestrais poderiam evoluir após a morte para a figura de elfos (álfar), os quais eram vistos como seres quase divinos, além de servidores fiéis do deus Freyr, relacionado à fertilidade, e, assim, ao próprio bem-estar dos descendentes.

DÍSIR

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Nas mãos das dísir percebe-se os cajados ornamentados como instrumentos de fiar, associados à tecitura do destino.

Associadas à deusa Vanir Freyja, têm em seu culto muitas similaridades tanto com os álfar (são consideradas por alguns estudiosos como o par feminino destes) quanto com as Matronæ da Europa continental, as quais receberam suntuosos altares de pedra. As dísir são os espiritos ancestrais femininos, os quais ficavam responsáveis pela proteção dos seus descendentes e parentes, e eram associadas também às Nornir, as três irmãs que teciam o destino dos seres humanos e demais criaturas. Tanto por isso eram vistas como responsáveis pela sorte de sua família, e, junto com os álfar, tinham um blót (sacrifício) dedicado diretamente para si.

CONCLUSÃO

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A família e sua relação com a terra que a sustentava era o núcleo central para os antigos povos escandinavos. Fonte: Iceland Magazine

Não existe apenas Hel e Valhalla, e o Hel não é um lugar ruim, viu? Lembre-se, todavia que o mais importante para um pagão nórdico não é para onde vai depois de sua vida, uma vez que a Ásatrú, Heathenismo ou Heathenry (os três nomes são sinônimos) é uma ritualística que aceita o mundo e não uma religião que o nega. Sendo assim interessa mais como o pagão nórdico (que também pode ser chamado de heathen) vive aqui, se com honra, justiça, com respeito aos seus parentes e ancestrais, de maneira social e não apenas individual e egoísta, conseguindo assim, eternizar a sua boa fama, como dito no Hávamál 76:

Deyr fé
deyja frændr
deyr sjálfr it sama
en orðstírr
deyr aldregi
hveim er sér góðan getr

“O gado morre,
parentes morrem,
do mesmo modo eu mesmo morrerei;
mas o renome
nunca morre
daquele que obtém boa fama”.

9 pensamentos sobre “Pós-vida de acordo com nórdicos e germanos

  1. VOCES VÃO TODOS ARDER NO INFERNO ACREDITANDO NESSAS BLASFÊMIAS. SÓ O SENHOR JESUS É O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA.

    ARREPENDAM-SE, AINDA ESTÁ EM TEMPO, ESSES DEUSES FALSOS NÃO OS LEVARÃO A LUGAR NENHUM.

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    1. Mano, flaviorc primeiramente quem é você para dizer que nossos Deuses são falsos ? Quem é você para dizer que vamos arder no inferno ? QUEM É VOCÊ que se altamente se contradiz dizendo que vamos queimar no tal “inferno” e logo em seguida pede para nos se arrepender ? Teu cristo segundo vocês não pregam o amor ao próximo ? por que vocês primeiramente ameaçam a nós que temos a fé diferente da sua para depois vocês passar a mensagem de boas que vocês deveriam passar ? Você deveria estudar um pouco mais sobre a sua religião e a sua fé antes de falar asneiras! Você deveria saber que muito das coisas que foram criadas no paganismo o cristianismo retirou e tomou posse como se fosse eles quem tivesse criado! Respeite mais a crença das pessoas, fique de boas na sua vida com sua fé!
      Passar bem!

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    2. nidhogg vai meter o rabinho em você se continuar pregando ódio, eu pensei que o seu Jesus Cristo fosse um homem bom, e não um piromaniaco que sai jogando quem tem crenças diferentes no ”inferno”

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    3. “Flaviorc”, cara, relaxa ai. Não é só por quê você não acredita na crença dos outros que você deve ficar todo zangadinho.
      Pra começar, por que você, um cristão fervoroso, se importa então com esses “deuses falsos”. Dica, se você é um fanático, se afaste de qualquer site com “liberdade” no nome.

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